quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Violações dos direitos humanos em Cabinda

Cabinda: «Existem violações veladas dos direitos humanos», diz Padre Casimiro Congo

LISBOA, quarta-feira, 2 de fevereiro de 2005 (ZENIT.org).- O Padre Casimiro Congo, pároco de Cabinda, está em Portugal no âmbito de uma viagem a alguns países europeus onde teve oportunidade de contatar com as comunidades de Cabindas no exterior.

Em entrevista à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, o sacerdote, que integra a Associação Cívica Mpalabanda, falou sobre a situação dos direitos humanos, da economia e das relações entre a Igreja e o Governo angolano em Cabinda.

--Como decorreu a iniciativa “Semana dos Direitos Humanos” promovida pela Mpalabanda em Cabinda?

--Pe. Congo: Com a “Semana dos Direitos Humanos em Cabinda” (que decorreu entre 5 e 11 de Dezembro) e com a comemoração dos 120 anos do Tratado de Simulambuco quisemos marcar uma presença, quisemos dizer “basta”. Como é possível contribuirmos tanto para a riqueza de Angola e, segundo as estatísticas, sermos a 3ª província mais pobre do país? Quisemos dar o nosso contributo pela positiva e dizer ao Governo angolano que estamos dispostos a continuar a nossa luta pela dignificação do povo.

--Existem actualmente violações aos direitos humanos no território?

Pe. Congo: Até que se resolva o problema da especificidade de Cabinda é indiscutível que a violação dos direitos humanos continuará como a tónica dominante. Economicamente, por exemplo, assiste-se à destruição do tecido económico de Cabinda. Vêm empresas sul-africanas, chinesas, angolanas e as empresas de Cabinda estão todas a morrer porque dizem que são elas que suportam economicamente a FLEC. Temos cerca de 90% da população de Cabinda no desemprego, sabendo que na região do Manongo se podia perfeitamente empregar cerca de 50 a 60% da população, mas preferem empregar pessoas que vêm de fora.

--Como analisou a recente reunificação das FLEC-FAC (Frente de Libertação de Cabinda/Forças Armadas de Cabinda)?

--Pe. Congo: A unidade não se pode fazer com pessoas que não têm nem poder político nem poder militar. A unidade tinha que ser feita entre a FLEC Renovada e as FAC, que se fundiram num único movimento. Este movimento é actualmente o interlocutor político com o Governo de Angola.

--A marcação de eleições em Angola poderá ser positiva para Cabinda?

--Pe. Congo: Em relação à realização de eleições em Angola temos três soluções a considerar: a primeira será não votar, como fizemos em 1992. A segunda opção é fazer acordos com um partido político angolano. A terceira é evoluir para um partido político regional, que não necessariamente a Mpalabanda.

Também seria possível um acordo com um partido mais próximo de Cabinda, como a FPD (Frente para a Democracia) mas é um partido com pouca expressão. Outra hipótese seria um acordo com a UNITA, um partido mais forte, de modo a eleger deputados de Cabinda para que se pudesse discutir as questões do território no Parlamento angolano. Mas estas duas opções podem ser perigosas, na medida em que nunca quisemos aceitar a “angolanidade”. Existe, portanto, um certo consenso entre várias sensibilidades de Cabinda para o boicote às eleições.

--Como é encarada a hipótese da realização de um referendo à população sobre a autonomia do território?

--Pe. Congo: Fazer um referendo é perder tempo, porque já somos referendados desde 1975. Para fazer um referendo teríamos de ver quem é verdadeiramente Cabinda, uma vez que continuam a ser enviados para Cabinda muitos senegaleses, congoleses, ou angolanos que não poderiam votar nesse referendo. Também nunca deveria ser, como sugeriu o Presidente José Eduardo dos Santos, ser Angola a referendar. Até porque o MPLA perdeu o seu espaço político em Cabinda e já não consegue sequer organizar um comício.

--Houve algum desanuviar da tensão nas relações entre a Igreja e o poder político?

--Pe. Congo: A Igreja será mais Igreja fora do poder político. É difícil para o poder político angolano aceitar que a Igreja seja independente, que a Igreja pense com a sua própria cabeça e ande com os seus próprios pés. A nossa posição será sempre a de aceitar o que é justo e rejeitar o que é injusto.

Mesmo nas décadas de 70 e de 80, no tempo em que havia maior repressão, as igrejas em Cabinda nunca estiveram vazias. É uma comunidade católica com grande força. Eu acredito que esta Igreja, neste sofrimento porque tem passado, tem sido verdadeiramente um lugar de revelação da própria força de Deus.

--Qual é a situação actual da comunidade católica em Cabinda?

Pe. Congo: Considero que é uma das comunidades católicas africanas com maior força. Agora é preciso transformar as comunidades, dando nova expressão à comunidade de crentes. Têm surgido muitos grupos do apostolado da oração, que são grupos recentes mas que contam com 5, 6 mil membros. É preciso dinamizar e aproveitar a força destes grupos, que têm uma grande força litúrgica e teológica e são um obstáculo às seitas que vêm do Congo-Brazaville e da República Democrática do Congo.

Em termos de vocações, posso dizer-lhe que só na minha paróquia existem actualmente 8 seminaristas, não temos é espaço para os acolher. Existem muitas vocações para a vida sacerdotal. Vamos ter brevemente um curso bíblico para catequistas, para o qual temos já 30 inscrições.





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