terça-feira, maio 29, 2007

Maçonaria, república e poder governativo

por D. António Marcelino

Vivemos em regime democrático. Há quem se diga democrata e a quem a democracia incomode. Assim se cai na tentação da promiscuidade, que envenena o ambiente e o espaço que é de todos. Se, no regime em que vivemos, se devem respeitar as opções, ninguém está impedido de falar livremente, sem medo, perante o que se vai vendo, conhecendo, e que pretende influenciar a comunidade de que todos fazemos parte.
A democracia não é um fim, nem pode servir de meio para que o poder, qualquer que ele seja, se aproveite dos postos de comando para empobrecer e dominar um povo livre.
A maçonaria viveu em Portugal, desde que chegou em princípios do século XVIII, horas difíceis. Foram perseguições de fora e divisões de dentro. Tempo seguido com contradições e projectos, uns conseguidos, outros frustrados. O apoio que então deu à “Carbonária”, motor organizado da queda da Monarquia, e a identificação conseguida, com a jovem República, inspirando ou fazendo seus os ditos “valores republicanos”, deram-lhe impulso para dominar. Isto permitiu-lhe conduzir o processo do início do novo sistema, minando os órgãos fundamentais da soberania, desde a Presidência da República ao Parlamento, destruindo o que não dominava e conquistando uma presença efectiva, bem marcada e visível, nos mais diversos lugares de influência do Estado. Teve, depois, de entrar de novo em meia clandestinidade. Este facto, porém, não a impediu de fazer acordos secretos com o poder, para que, dada a sua influência, o mesmo se pudesse manter, mesmo quando publicamente perseguia a Loja. E foi assim, como se sabe e se diz, até nos tempos de Salazar, que, olhando para o lado, cedeu na orientação de serviços públicos conhecidos e cobiçados, dada a influência destes no povo.
A aceitação oficial da Loja deu-se com o 25 de Abril, por razões óbvias, depressa explicadas por motivo de quem ia aparecendo na ribalta política dominante. O novo poder fez-lhe a entrega de bens antes expropriados e pagou-lhe indemnizações. Às claras, recomeçou-se, então, a falar da maçonaria e a dizer da campanha persistente que ela fazia nos corredores da Assembleia da República, junto de gente nova ansiosa por benesses no presente e sonhando com as boas promessas de futuro. Abriram-se portas, antes e sempre fechadas, publicaram-se nomes de alguns aderentes, não todos, com influência nos diversos quadrantes da sociedade portuguesa; manteve-se, porém, o sigilo dos ritos de iniciação e de outros ritos importantes. Aliviou-se algum secretismo, mas a Loja continuou a ser uma associação fechada, sem a abertura normal, propiciada por regime democrático. Esta situação deu direito a desconfiar do que se passa e programa.
O sol da primavera é propício para trazer à luz o que as tocas escondem em invernos prolongados. Porque o ambiente político se tornou propício e a ocasião convidativa, a maçonaria começou a apresentar os seus projectos para o país. A nós o dever e o direito de apreciar, dizer e alertar sobre o que se projecta, porque a todos nos diz respeito.
A maçonaria portuguesa aparece, de novo, com algum espírito de “carbonária”, eivada de um acirrado laicismo, tendo no horizonte os “valores republicanos”, lidos unilateralmente, e empenhando-se por introduzi-los como inspiradores das leis que devem reger o povo. Esquece-se que o poder democrático não se pode exercer à revelia dos valores que um povo concreto e sensato sempre teve, quer ter e defende, para salvaguarda da sua identidade, dignidade e futuro em liberdade. Impor é matar e destruir.
Há que fechar a Igreja na sacristia, ignorar os valores cristãos, fazer tábua rasa de uma cultura milenária, negar a história pátria e secar as suas raízes vitais, mudar o sentido das instituições que dão consistência à sociedade, fechar o homem, por via da educação nas escolas e meios de comunicação social, à dimensão do transcendente. Será este o programa “político” actualizado do Partido Socialista, agora publicamente de mãos dadas com a maçonaria? Se a perspectiva é de um laicismo redutor, o que restará da democracia? Um povo decapitado. E que será o Partido Socialista? Uma galeria vistosa, com muita gente alienada e encostada. E a maçonaria? A estratégia táctica de servir e de se servir de um poder sem ideologia.
Mas as prioridades num país que empobrece têm de ser outras, se quisermos sobreviver.

(Correio do Vouga, 24 de Maio de 2007)

segunda-feira, maio 28, 2007

A Ilha das Sete Cidades

por Fernanda Frazão


ANTÍLIA, também lhe chamavam. E foi porto sonhado de navegadores de descoberta.

Contou Fernando Colombo, o filho de Cristóvão Colombo, almirante de Espanha, que notícias dessa ilha perdida no Atlântico chegaram um dia à Madeira, notícias que fizeram nascer em seu pai desejos de partida e busca.

Muitas são as lendas referentes aos Açores que relatam a existência naquele local do Atlântico de uma enorme ilha, maravilhosa e estranha. As nove ilhas do arquipélago seriam para muitos, de acordo com essas lendas antiquíssimas, os restos de uma esplendorosa civilização que chega a ser ligada à mística Atlântida descrita por Platão.

Assim como o filho de Colombo nos deixou notícia do modo como ele soube da existência daquela ilha, também as cartas de marear anteriores aos descobrimentos marítimos sistemáticos e organizados traziam figurada a oeste de Portugal, no Atlântico Ocidental, uma enorme ilha a que estava aposta a designação de ilha das Sete Cidades. Segundo a tradição corrente, essa ilha era possuidora de riquezas fabulosas, quer de origem natural, quer manufacturadas pelo homem, que nela havia construído cidades indescritíveis. Por estas razões, desde o início da aventura as naus de descoberta apontaram as proas na sua direcção, com a finalidade de trazer para o Reino algumas riquezas e celebrarem pactos de amizade com os seus habitantes.

Conta a lenda que no tempo da invasão dos mouros de Tárique, no ano 711, um grupo de sete bispos fugiu da península com todos os cristãos que quiseram acompanhá-los. Embarcaram em navios, na foz do Douro, e partiram em busca de segurança e paz. Arrastados por uma terrível tempestade, os viajantes acabaram por dar por si frente a uma ilha deserta de aparência paradisíaca. Estabeleceram-se e dividiram o território em sete parcelas onde cada bispo fundou uma cidade com governo próprio.

Tão bem se acharam que, para evitarem a fuga dos habitantes que com eles haviam chegado, afundaram os barcos. Dali por diante, cada vez que uma embarcação chegava à ilha, por acaso, a tripulação era retirada e os barcos destruídos para que no mundo exterior não fosse possível saber-se da existência daquela ilha paradigmática.

Diz-se que as cidades eram enormes e bem delineadas. Os palácios tinham paredes de ouro maciço e estavam defendidos por fortificações construídas com gigantescos blocos cúbicos de pedra. A paz total que viviam possibilitava-lhes o estudo e a resolução de alguns problemas vitais e talvez por isso o trabalho do campo e a criação de gado desenvolviam-se a ritmos e em condições hoje desaparecidos. Os bispos inventaram mil mecanismos auxiliares do trabalho manual, suavizando assim as condições de vida e possibilitando a todos os habitantes um desenvolvimento espiritual e filosófico só possível numa civilização em que o ócio não é um luxo, mas um componente da vida diária. E as pessoas eram felizes e sem contendas.

O relato de Fernando Colombo diz-nos que aqueles navegantes chegados fortuitamente à ilha das Sete Cidades trouxeram ao infante D. Henrique um punhado de areia da praia, donde um ourives de Lisboa extraiu bastante ouro. E acrescenta que estes homens fugiram do Reino, quando face à análise da areia, o infante os mandou embarcar de novo em direcção à ilha fabulosa.

Mas a ilha fabulosa nunca mais foi achada pelos caminheiros das águas. Certo dia, não se sabe bem porquê, um enorme cataclismo assolou aquela ilha amada de Deus. A terra tremeu e fez desmoronar os maravilhosos palácios e muralhas das sete cidades, enquanto ondas alterosas se encarregavam de apagar da face do mar a imagem daquele paraíso. No seu lugar ficaram pequenos restos de terra escancarados para o céu em picos de fogo e lava.

Por isso, quando os Portugueses chegaram aos Açores só lá encontraram nove pequenos pedaços de paraíso, perdidos na imensidão do mar. Riquezas já não existiam e gente não sobrevivera à fúria dos elementos.

Tudo quanto restou foi a memória do paraíso fabuloso e duas belíssimas lagoas, uma verde, outra azul: a Lagoa das Sete Cidades.

- Do livro Lendas Portuguesas



Retirado da edição online de 25 de Maio de 2007 do Jornal
PORTUGAL ILUSTRADO, no endereço

http://home.eol.ca/~azorean/

sábado, maio 26, 2007

Island Of Wonder











Nelly Furtado & Caetano Veloso


ISLAND OF WONDER

The man wrinkles his face
But it's already worn
The coffe is sour
And the shirt is torn
But the smile is bigger than the Atlantic sea
And it happens to bring out the Atlantis in me
Island of wonder
Where do you come from
Is it the way the sun hits my face
Or is it your memory which I cannot trace
Eu vejo mais ao longe
Pessoas sem fome
Com pés sangrando
Na vereda florida
And the church bell dongs
A remarkable song
And I swallow the salt
As I hum along
The woman she laughs as I pass her by
In a patchwork (dream) I left behind
Island of wonder
Where do you come from
Is it the way the sun
Hits my face
Or is it your memory which I cannot trace
I cannot trace
Look at me I have so much pride
I took my shoes off I ran I did not hide
Look at me I have so much pride
I will give my dowry for the prize
Island of wonder
Where are you going
Nobody knows it
But it is snowing
In the hearts
and minds of every kind of universe
Every kind of universe

Island of Wonder - iTunes

quinta-feira, maio 24, 2007

Este tempo de sombras

CARTA DO CANADÁ

por Fernanda Leitão

A notícia era curta e de pés ligeiros. Voou por todos os cantos das comunidades portuguesas. Dizia que, numa operação chamada Furacão, a polícia brasileira prendeu umas dezenas de pessoas ligadas ao ilícito Jogo do Bicho, novo Eldorado que uns quantos queriam implantar, com fachada de casino, em vários pontos do Brasil e, também, em Portugal e Macau. A nutrida lista de presos contou com dois portugueses. Um deles, considerado empresário de sucesso por ter dinheiro tão abundante que até financiava o Partido Socialista em terra brasileira, o que lhe proporcionou ser nomeado cônsul honorário em Cabo Frio. Era o escândalo de corrupção em corpo inteiro por todas as razões, incluindo o facto de Cabo Frio não ter portueses residentes e ser uma estância de turismo de alta reputação, donde o português comum que lê jornais logo concluíu que se estava perante mais um repugnante compadrio partidário à custa dos dinheiros dos contribuintes portugueses.
No meio desta corrupção posta a descoberto, o nome de José Lello foi citado como tendo sido uma espécie de mediador entre o detido e os dinheiros que ele esportulava para as andanças partidárias dos socialistas. E de caminho, o secretário de estado das Comunidades, António Braga, foi apontado como o responsável pela nomeação do “cônsul honorário”. A lama salpicou o (derrotado) candidato do PS pela emigração do chamado Resto do Mundo, nas últimas legislativas, Aníbal Araújo.
Em momentos de grande turvação é que se conhecem as pessoas e, mais uma vez, foi o caso. António Braga negou, meteu os pés pelas mãos, e acabou a desnomear o nomeado honorário. Lello, com aquele jeito expedito a que nos habituou, lavou as mãos como Pilatos ao sublinhar que o tal detido era amigo do Aníbal Araújo, deixando no ar a suspeição de ter sido enganado. Por fim, Aníbal Araújo teve a nobreza de carácter de afirmar com toda a nitidez que é amigo do implicado há muitos anos, que não deixará o ser por esta infeliz conduta, embora nada tenha a acusar-se de aproveitamento financeiro. E disse bem, porque só os canalhas abandonam os amigos quando estes tombam na má conduta. Quem anda no jornalismo há muitos anos e anda por vários países, e é o caso de Aníbal Araújo, está sujeito a tornar-se amigo de pessoas que, eventualmente, podem portar-se mal um dia. As coisas são o que são. Todos nós temos um ou outro amigo que não é flor que se cheire, mas consideramos que só Deus é quem julga e não negamos a amizade.
Conheço Aníbal Araújo há anos. É um homem honesto, mas perigosamente ingénuo para se meter nestas andanças de políticos que vivem da mentira. Em suma, profissionais do faz de conta, da hipocrisia, do venha a nós e a Pátria que se lixe. Afectuoso de seu natural, amigo do seu amigo, qualquer marau rodado na baixa política que se pratica em Portugal engana Aníbal Araújo.
É uma lição dura e dolorosa, mas é uma lição que, uma vez mais, vem provar quanto os portugueses residentes em Portugal ignoram os seus compatriotas residentes no estrangeiro. Com a maior facilidade acreditam que o sujeito tal é um empresário de sucesso, graças ao trabalho honrado, apenas fiados nas suas doces palavras. E, infelizmente, acreditam menos nos portugueses expatriados que os avisam quanto a certos figurões que, com o maior descaro, exploram, de forma vil, as comunidades em que vivem. Foi por uma unha que o PS não levou um escaldão em Toronto, precisamente porque um antigo secretário de estado das Comunidades se fez surdo e cego diante de quem o avisava. Como cega e surda sempre se fez Manuela Aguiar quando, por anos a fio, tutelou a pasta das Comunidades.
Manda Deus que se diga a verdade: não podem gabar-se outros partidos de serem mais sérios ou avisados. É tudo a mesma fruta sorvada a tornar intragável um 25 de Abril que todos desejámos redentor da Pátria sofrida. Com gente desta nem para o céu. Também o PSD, que esteve acampado cá por fora mais de 20 anos, fez enormidades no que respeita a compadrios, omissões e tratantadas. A menor das quais não foi a nomeação de cônsules honorários por José Cesário, ao tempo secretário de estado das Comunidades. Os do Canadá eram um espanto de incompetentes e inadequados. Um deles era padre e não teve pejo de instalar os serviços do PSD dentro da igreja! Acabou por ser recambidado dali pelo bispo e a cégada dos honorários acabou, sem honra nem glória, como acabou este de agora nomeado por Braga.
Os partidos políticos, todos eles, estão a precisar de uma excelentíssima limpeza à mangueirada, porque lançaram a Pátria neste lodaçal. Há que fazê-lo antes que surja outra ditadura. Palavra de emigrante.

segunda-feira, maio 21, 2007

A propósito de Fátima

João Carlos Espada

jcespada@netcabo.pt

Em Fátima, no fim-de-semana passado, terão estado cerca de meio milhão de pessoas. Numa intervenção radiofónica, José Miguel Júdice comentou o fenómeno com a sua habitual perspicácia. Observou a intensa manifestação de fé, que contraria os cíclicos prognósticos sobre o declínio da religião. E chamou a atenção para que essa manifestação, ao contrário de outras noutros países, foi profundamente pacífica, inclusiva e não política. Acrescentou que a igreja católica tem em Portugal uma vastíssima acção social de apoio aos desfavorecidos que devia ser mais acarinhada pelos poderes públicos.

Seria desejável que estas palavras sensatas pudessem contribuir para atenuar o preconceito anticatólico, ainda tão forte entre nós.

Um elemento importante deste preconceito continua a residir no argumento de que o catolicismo se opõe à democracia. Mas os factos também não corroboram essa tese. Os estudiosos da transição à democracia reconhecem hoje que o 25 de Abril português esteve na origem da chamada “terceira vaga de democratização mundial” — uma tese inicialmente proposta por Samuel Huntington.

Entre 1974 e 1989, observou Huntington, mais de trinta países, na Europa, Ásia e América Latina, transitaram de regimes mais ou menos autoritários para regimes mais ou menos democráticos. Dois dos três primeiros países a democratizarem-se (Portugal e Espanha) são maioritariamente católicos. A seguir, o movimento de democratização atingiu seis países da América do Sul e três da América Central, todos eles dominantemente católicos. As Filipinas foram o primeiro país asiático a reunir-se à ‘terceira vaga’. E a Polónia e a Hungria católicas foram os primeiros países do Leste europeu a ensaiar a democratização. Como observou Samuel Huntington, “três quartos dos países que transitaram à democracia entre 1974 e 1989 eram dominantemente católicos”.

Mas seria ainda um equívoco reconhecer apenas esses contributos mais recentes da religião cristã para a liberdade. Muito antes de Voltaire ter escrito sobre a tolerância, John Milton e John Locke fundaram o dever da tolerância na moral cristã. Lord Acton, o célebre católico liberal inglês do século XIX, argumentou persuasivamente que S. Tomás de Aquino lançara os fundamentos da atitude liberal. E o católico Alexis de Tocqueville observou, em páginas veementes, que a democracia na América não podia ser compreendida sem o contributo da fé cristã para alicerçar o ideal das limitações constitucionais ao poder político e do direito natural dos indivíduos “à vida, liberdade e busca da felicidade”.

domingo, maio 20, 2007

Urge restaurar Portugal

Em espíritos temerosos, a ideia da Aliança Peninsular tem despertado, bem se sabe, algumas desconfianças e compreensíveis receios. Aliás António Sardinha foi o próprio a dizer que “O estado espanhol herdeiro do centralismo absorvente do Conde-Duque, quando olha Portugal, olha-o como uma parte sua, que interesses criminosos separaram do sua integral gravitação”. Mas como não se muda a situação geográfica, nem é possível alterar ou ignorar a realidade que nos fez confinantes, e por conseguinte esquivarmo-nos é nossa circunstancialidade histórica, António Sardinha via na Aliança, o meio mais adequado para disciplinar as nossas relações de vizinhos. E, na verdade, é sempre mais fácil, por menos notório e menos escandaloso, faltar a um dever, se esse dever é simplesmente moral e não foi assumido voluntariamente na letra de um contrato. Uma aliança desempenha neste sentido as funções de um potente travão; pode tomar-se como um instrumento dissuasivo a conter instintos de atropelo e impulsos de ofensa. Todavia, a precaução de António Sardinha levou-o a considerar, na sua vária extensão, os perigos potenciais da Aliança. Uma boa parte do texto deste livro se lhes refere em concreto.

Não ignorando, não escondendo, nem menosprezando as ambições unitaristas ou unionistas acalentadas no seio das “direitas” nacionalistas espanholas ou das “esquerdas” de lá ou de cá, António Sardinha foi peremptório: antes, e como condição sine qua non do estabelecimento da Aliança, punha, para segura garantia das respectivas independências, o fortalecimento moral e institucional das duas nações. E, repare-se, não só de uma, mas das duas. Efectivamente uma união centrada em Madrid ou em Lisboa iria a dar no mesmo, especialmente para nós. Esse astucioso engodo de fazer a união com um rei português e a capital em Lisboa fora-nos, aliás, já lançado por mais de uma vez.

Na condição prévia de confiar a manutenção das independências nacionais – portuguesa e espanhola – à guarda das respectivas Dinastias reais, via António Sardinha o mais seguro, se não o único meio de evitar que uma aliança descambasse numa união ou numa absorção, de que, como é evidente, só nós poderíamos ser vítimas. E não é de estranhar ou de desvalorizar esta condição, pois que, em sentido inverso, também assim era visto o problema. Os unionistas ou federalistas (o que vem a dar no mesmo) confirmavam a sua validade ao acusarem a Dinastia portuguesa de impedir os seus desígnios. O grão-mestre Sebastião de Magalhães Lima o confessa em La Fédération Ibérique: - “La Fédération a eu jusq’ici un grand ennemi: c’est l’interet dinastique”. Do lado espanhol lê-se o mesmo, quase pelas mesmas palavras: “Sobre esa Dinastia (a de Bragança) pesa la responsabilidade de haber deshecho en tiempo de Filipe IV la obra de Filipe II, y si fuera restaurada renacerian con ella todos los obstáculos que desde 1640 vinieron impediendo la Union Ibérica”. (J. Segalerva)

Sirvam estas insuspeitíssimas palavras de solene aviso ao patriotismo dos Portugueses!

Enquanto estivermos em república e, pior ainda, se, quando restaurada a monarquia espanhola só nós estivermos em república, quaisquer ligações ou compromissos políticos, feitos embora dissimuladamente, esbatendo fronteiras sob o aspecto de fraternidades regionais ou a pretextos de intercâmbios festivos, de empresas de interesses comuns, etc., etc., temia-os também, com toda a clarividência, António Sardinha. São de ver os comentários veementes que lhe provocaram os planos de Afonso XIII apresentados na entrevista de Miramar.


(Excerto da nota prévia à 3ª edição da obra Aliança Peninsular de António Sardinha, por Mário Saraiva (Julho de 1972)

quinta-feira, maio 17, 2007

A Recriação da Natureza


Entrevista com Ribeiro Telles 15/05/2007


Leonardo de Melo Gonçalves
Foto: Portal do Jardim


À margem do Congresso "Jardins do Mundo" que se realizou no Funchal nos passados dias 9-12 de Maio de 2007, o Portal do Jardim foi conversar com o Arquitecto Paisagista Gonçalo Ribeiro Telles. Uma personalidade incontornável do mundo do Jardim, dedicou toda uma vida à defesa dos valores da Terra e do Ambiente. Recebeu, no âmbito também deste congresso, uma merecida homenagem que partilhou com o filósofo Eduardo Lourenço.

Portal do Jardim (PdJ) - Qual é a sua primeira memória de um jardim?

Arq. Ribeiro Telles (RT)- A Av. da Liberdade, onde nasci.

PdJ - Enquanto jardim?

RT - Enquanto avenida... A avenida é um jardim.

PdJ - E que importância tinha para si?

RT - Era um sítio onde se passeava, onde se brincava. De certo modo um sítio aprazível com árvores.

PdJ - Sempre gostou do jardim num contexto urbano, correcto?

RT - O jardim é qualquer coisa que é independente do contexto urbano e é independente de outro contexto qualquer.

PdJ - O Arquitecto costuma dizer que «tudo é um jardim»...

RT - Tudo caminha para tal. A humanização da terra, do território, caminha evidentemente para uma paisagem bela, para uma paisagem equilibrada, portanto é um macrojardim. O que não quer dizer que um macrojardim não contenha depois microjardins, na acepção mais perfeita do termo, que é um microcosmos, uma paisagem ideal.

PdJ - Quando é que decidiu ser Arquitecto Paisagista?

RT - Encontros. Até como era uma matéria que não estava lançada no país, fui caminhando no sentido da agronomia, primeiro – e paralelamente tinha condições para arquitectura, portanto tinha dois caminhos a seguir. Segui o da agronomia, mas na agronomia encontrei os primeiros passos da arquitectura paisagista, num curso livre de arquitectura paisagista e foi assim, uma obra do acaso.

PdJ - Estabelece alguma ligação entre a sua vivência na infância da Avenida da Liberdade e a sua escolha em enveredar pela sua área profissional?

RT - Não, não. [risos] Acho que não vale a pena tentar encontrar ligações dessa ordem.

PdJ - Não estabelece essa ligação entre a infância...

RT - Não. Eu demarquei a Avenida da Liberdade porque dela também fazem parte os quintais que existiam. Portanto, tanto bricávamos na Avenida da Liberdade como brincávamos nos quintais.

PdJ - Que resultado é que pensa que terá este desaparecimento progressivo dos quintais na vida das famílias?

RT - Há um regresso negativo. Como sabe, os quintais estão todos a ser transformados em garagens, em pavimentos impermeáveis e estão a desaparecer. Aí há um aspecto muito negativo para a cidade, para a cidade como habitat, como conforto e até como beleza. É trágico o que está a acontecer - a destruição sistemática do que era o verde integrado na própria cidade.

PdJ - Acha que a vivência dos jardins pode trazer felicidade?

RT - Tudo contribui. O que interessa é saber escolher e saber viver.

PdJ - Como é que vê a tendência dos municípios continuadamente cederem ao lobby do betão, ou da celulose?

RT - É uma falsa ideia de progresso, que de certo modo se criou da ideia de que o progresso era o volume construído. O choque da Revolução Industrial levou a que isso parecesse ser o progresso, quando isto é claro que não é progresso, é até retrocesso. Portanto estamos nessa época de transformações.

PdJ - Pensa que será um problema de falta de formação cívica por parte dos decisores? Acha que se trata de pressões externas?

RT - É as duas coisas juntas. Muitos estão convencidos que o futuro resulta de um artificialidade total da vida, de superficialidade e de uma maneira de viver que vem da facilidade dos fluxos energéticos para a vida humana, que está a acabar. Portanto temos que não andar para trás, temos é que recriar as condições da vida.

PdJ - Acha que esse é o caminho para inverter a situação...

RT - É recriar, não de ir para trás. Enfim, uma recriação é sempre uma criação que tem um sentido determinado e umas bases determinadas. Evidentemente que portanto é um reencontro com a Natureza, mas no sentido humanizado da Natureza, em que se inclui também, mas não só, os problemas da protecção do espaço, da produção do espaço. Nós vivemos de facto num sistema ecológico forte, que vive também de transformar esses espaços de protecção em espaços de recreio.

PdJ - Há hoje uma moda emergente, especialmente em França, de criar jardins verticais. Como vê esta opção arquitectónica?

RT - É mais um aspecto decorativo, que não resolve o assunto. É o mesmo que pegar numa fachada e revesti-la de azulejos, onde antes nada existia. Há um elemento fundamental a recriar nesta paisagem global do futuro, porque nós caminhamos para uma paisagem onde os dois sistemas, o natural e o artificial do abrigo, se vão conjugar e harmonizar. Nos diferentes espaços, em que muitas vezes é o contínuo o elemento construído e o residual é, digamos, o elemento verde, tem que haver uma interligação entre essas situações e as situações em que se dá o contrário, em que o elemento contínuo é o sistema natural e o elemento descontínuo é construído. É aí que está o grande jogo do planeamento moderno.

PdJ - Há hoje nitidamente um decréscimo no contacto entre jovens e a Natureza, as zonas rurais. Numa conferência recente, o Arq. Ribeiro Telles sugeriu que deveria haver subsídios para os jovens voltarem ao campo e às aldeias. Acha que é uma proposta viável?

RT - Subsídios não, mas sim capitalizar os jovens – que é diferente do subsídio.

PdJ - Um forma de conduzir os jovens...

RT - Não é para conduzir, é para fazer viver as aldeias, em que os jovens são fundamentais. A possibilidade de fazer viver as aldeias, não é com o turismo – que vem a seguir, é recuperando a agricultura de base local e de base regional. É essa de facto a que hoje está a ser muito necessária para o país e não a de competição a nível internacional. A recuperação da agricultura para espaço, para protecção. A agricultura não são fábricas, para apertar parafusos... A agricultura é um mundo que trabalha, que tem actividade no solo, solo esse que é um elemento da crosta terrestre de transição da parte geológica para a atmosfera, fundamental para toda a vida humana, e para toda a vida. Por isto é que houve a necessidade de criar reservas de protecção ao solo, que foram tão mal entendidas pelos técnicos, pelos municípios, pensando que eram obstáculos ao desenvolvimento quando eram de facto a garantia do desenvolvimento.

PdJ - É optimista quanto ao futuro, naquilo que diz respeito aos jardins e o modo como são vividos? Esses microcosmos...

RT - Nós partimos de uma natureza primordial, que é chamada de primeira natureza e o Homem transformou essa primeira natureza numa natureza mais bela, biologicamente mais activa, mais biodiversificada até, com a criação das orlas e portanto o problema é recriar esse sistema, porque senão não há vida. Portanto, quando se ouve estas campanhas constantes em nome do desenvolvimento até da liberdade das pessoas poderem fazer o que quiserem em qualquer lado... até técnicos juristas e economistas caíram nessa «arara» e arranjaram estes «trinta e um» tremendos que são os fogos florestais, a expansão urbana indiscriminada, que agora se vêem aflitos para resolver. [A solução] é a recriação, é novamente a intervenção para situações de modernidade de uma paisagem global que inclui os sistemas naturais, florestais e cultura e os sistemas de abrigo artificiais onde estão as construções.


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domingo, maio 13, 2007

O Erro da Ota e o Futuro de Portugal



Sai amanhã, dia 14 de Maio, o livro «O Erro da Ota e o Futuro de Portugal».

Prof. Eng.º António Brotas, Prof. António Barreto, Escultor Cerveira Pinto, Prof. Eng.º António Diogo Pinto, Prof. Doutor Galopim de Carvalho, Arq.º Carlos Sant'ana, Eng.º Frederico Brotas de Carvalho, Arq.º Gonçalo Ribeiro Telles, dr. José Carlos Morais, Major General PilAv, José Krus Abecasis, General José Loureiro dos Santos, Judite França, Arq.º Luís Gonçalves, Prof. Mendo Castro Henriques, Dr. Miguel Frasquilho, Patrícia Pires, Dr. Pedro Quartin Graça, Engº Reis Borges, Dr. Rui Moreira, Rui Rodrigues, Eng.ª Teresa Maria Gamito e Dr. Vítor Bento.

O panorama traçado pelos autores revela que não está apenas em jogo decidir se o novo aeroporto de Lisboa deve ser grande e substituir o da Portela; se deve ser mais pequeno e servir os voos de Baixo Custo e combinar-se com o actual, na solução Portela +1; ou se deve haver um novo aeroporto na grande banda de território plano entre Tejo e Sado que vai desde o Campo de Tiro de Alcochete até à Marateca. O que está em jogo exige começar por “sentir o território”; tentar perceber a geografia da região metropolitana de Lisboa; quais as potencialidades dos grandes estuários e a ligação dos corredores do Tejo e Sado; as vulnerabilidades da expansão a Norte do Tejo; a abrangência e as ameaças ambientais ao aquífero da península de Setúbal; a rede de ligações mar e terra, os portos e o transporte ferroviário e rodoviário.

Em segundo lugar, os autores deste livro rejeitam a Ota. Foi uma decisão mal preparada por sucessivos governos; mal fundamentada do ponto de vista técnico; acompanhada da ocultação e da manipulação de estudos; e desacompanhada por precauções relativamente à especulação fundiária:rejeitam o erro da Ota que contraria toda e qualquer normalidade de procedimentos de “bom senso”

Em terceiro lugar, aceitam que a Portela tem de ser complementada por um novo Aeroporto que deverá surgir de uma perspectiva de implementação faseada. O novo Aeroporto Internacional terá de reservar espaço de desenvolvimento para todo o século XXI. Para isso, o território em que se implanta deve ser bem compreendido, e as ligações com portos e ferrovias bem estabelecidas porque, em futuro próximo, as contingências ambientais limitarão a correcção de trajectória.

Mais notícias sobre o Erro da Ota, em www.somosportugueses.com.

Ave Mundi Luminar

Rodrigo Leão - Ave Mundi



sexta-feira, maio 11, 2007

O terrorismo não deve ter honras de Estado

Está a decorrer uma recolha de assinaturas para uma Petição dirigida ao Presidente da Assembleia da República, com o seguinte teor:


A Sua Excelência o Senhor Presidente da Assembleia da República

Excelência,

Verificado o cumprimento dos pressupostos legais para o exercício
do direito de petição colectiva, no caso uma representação, vêm
todos os signatários manifestar a sua discordância com a
trasladação dos restos mortais de Aquilino Ribeiro para o Panteão
Nacional, por deliberação da Assembleia a que Vossa Excelência
preside.

Mais vêm manifestar esta discordância de uma forma determinada e
expectante. Determinada e expectante, Senhor Presidente, porque a
Assembleia da República, independentemente de considerações de
natureza cultural, deve atender ao facto, historicamente provado,
de Aquilino Ribeiro ter participado na conspiração para o
assassinato do Chefe de Estado de Portugal, em 1 de Fevereiro de
1908, Sua Majestade El-Rei D. Carlos, e Seu Filho, Sua Alteza Real
o Príncipe Dom Luis Filipe.

A contradição, Excelência, parece-nos díficil de ultrapassar:
considerar herói nacional, propor como exemplo às gerações
vindouras, alguém que participou na preparação de atentados
terroristas e que foi preso por isso mesmo; alguém cujo processo
por participação em atentados bombistas foi levado a tribunal em
13 de Fevereiro de 1908, juntamente com mais dois arguidos; alguém
que depois veio branquear o seu passado e sacudir as mãos à
varanda de Pilatos, confunde-nos o espírito de portugueses e de
ocidentais, defensores da democracia e dos direitos humanos. Com
esta trasladação, a instauração da República fica equiparada ao
acto do regícidio!

Mas, Senhor Presidente, Herói e Assassino são
antónimos. A sua conjunção é uma impossibilidade ética. E, se não
se confirmar a impossiblidade legal daí decorrente, são um
conceito apenas: um equívoco no coração da própria República!
Vossa Excelência, personalidade de elevadíssima idoneidade e
dimensão humana, constitui motivo de certeza para todos estes
portugueses, em número de e de todos os outros que dentro e fora
do território nacional têm o espírito em sobressalto, de que esta
ignomínia ficará pela mera tentativa.

É o País inteiro que atento e grato pela procedência desta
representação, vem assinar e dirigir a Vossa Excelência este grito
muito forte e muito português: Deixem em paz as cinzas de Aquilino
Ribeiro! Deixem que a Posteridade lhe teça os elogios literários
que merecer! Mas não ergam em símbolo de cidadania quem deu provas
de aceitar que os métodos terroristas e o assassinato de um Chefe
de Estado são meios procedentes e legítimos para instaurar ideais
políticos.

Não o coloquem no Panteão Nacional!

quarta-feira, maio 09, 2007

Uma Carta para o arraial do barrete frígio







por Manuel Alves


Sob o título "Aos Republicanos", o historiador João Medina publicou hoje no Jornal de Letras uma Carta que julgo deve merecer a atenção de todos aqueles que, como eu, entendem que a Instituição Real é a que melhor serve na Suprema Magistratura da República portuguesa.

Pedindo perdão aos seus "compatriotas de barrete frígio", João Medina vem dizer "com franqueza e sem quaisquer intuitos de desafio ou provocação, a dois anos do centenário da data da implantação da I República", "em termos simples, cordatos e benévolos": "… não creio que valha a pena preparar, oficialmente, ou mesmo em meios académicos, a celebração dum mau defunto que foi esse regime de década e meia de vigência atarantada, e que, bem feitas as contas, teve nada menos do que 47 governos que a desgovernaram por trancos e barrancos (...) de atribuladíssima e caótica duração, com muitas bernardas castrenses de permeio, sedições várias, tumultos constantes e quase sempre mais ou menos sangrentos, de atropelos à legalidade e ditaduras disfarçadas ou às escâncaras, sem falar da Ditadura das Urnas, com o 'partido democrático' do dr. Afonso Costa (aquele homem de Direito que foi uma vez ao Porto, em 1902, com uma soqueira, para agredir à traição o Sampaio Bruno), mais uma participação em tudo funesta e catastrófica nos conflitos europeu e africano, e, por fim, uma degola que nos privou da Liberdade, com certa lógica fatal depois de tanta bagunça, desassossego, insensatez política e falta de implementação mínima dum regime sério de Cidadania, Educação generalizada ou Progresso material, porquanto nem se educou o povo, nem se fez de cada português um cidadão livre, nem se melhorou a vida dos portugueses".

Ao concluir, João Medina lança aos correligionários algumas perguntas: "Em 2010 vamos, em suma, celebrar o quê? O começo dum erro imenso e desastroso para o país que somos? A nova versão da comédia offenbaquiana da monarquia constitucional, agora em versão sanguinolenta? (...) Não seria melhor, em vez de celebrarmos o 5 de Outubro, rezarmos-lhe um responso (laico) pela pobre alma penada que ele foi? Antes isso do que comemorar uma República sem republicanos, como a nossa é."

Faço minhas as palavras citadas do seu balanço da I República, mas acrescento, contrariando o desalento das interrogações finais: se o que é nefasto não se celebra, pode no entanto ser comemorado com proveito cívico se, despidos de paixão amouca, colocarmos a História diante dos olhos, como aliás o historiador, o ensaísta, e Professor Catedrático da Faculdade de Letras de Lisboa, acaba de fazer no trecho que escolhi. Como deixou escrito D. Jerónimo Osório, nas vésperas dessoutro nefasto 1580, "A História é proveitosa para adquirir prudência, poderosa para despertar virtudes, saudável para sanear as feridas da República".


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quinta-feira, maio 03, 2007

Caiu a Máscara

Portugal, não tem esquerda nem direita, tem Corruptos. Durão Barroso, Santana Lopes,e José Sócrates fizeram da governação uma quinta, trataram-se, tratam-se como nababos.

Uma auditoria do Tribunal de Contas arrasou o governo e pôs a nu as causas verdadeiras do défice nas contas públicas.
Há anos que andamos a ser sacrificados e o pretexto é o do défice das contas públicas.
Para reduzir o défice das contas públicas, o governo não encontra outras soluções que não sejam as de fechar centros de saúde, maternidades, urgências hospitalares, escolas, consulados, e tantos outros serviços necessários às pessoas.
Nestes apertos, o interior do país tem sido o principal sacrificado, retirando-lhe o pouco que tem.
Na sanha da poupança, o governo aumenta os impostos, encarece serviços de saúde, reduz pensões, encarece medicamentos, tudo numa cata ao dinheiro do pobre, esmifrando tudo o que pode.
Não contente com as contas, o governo atirou-se aos funcionários públicos como se eles não fossem necessários e não prestassem serviços.
Pois agora, caiu a máscara. O relatório do Tribunal de Contas é claro e arrasador. Os governos de Durão Barroso, de Santana Lopes, de José Sócrates fizeram da governação uma quinta, trataram-se, tratam-se como nababos. Verdadeiros esbanjadores da riqueza pública.
Consta no relatório do Tribunal de Contas que “os gabinetes ministeriais dos últimos três governos gastaram, entre 2003 e 2005, 12,8 mil milhões de euros”. Isso mesmo: 12,8 mil milhões de euros. Uma soma astronómica!
“Cada português paga 430 euros por ano para financiar os gastos com os gabinetes do governo. São os salários dos assessores, os pedidos de pareceres e a contratação de especialistas. Tudo feito sem controlo.” Uma anarquia! Os gabinetes ministeriais tornaram-se máquinas devoradoras de dinheiro público! Uma gamela onde se come à grande!
É um rosário de nomeações, gente amiga. “Durão Barroso fez 72 nomeações e terminou com 62; Pedro Santana Lopes começou com 108 nomeações e acabou com 80 pessoas; José Sócrates é apontado como o campeão das nomeações, 148”. Foi José Sócrates que se apresentou como o moralista, o disciplinador.
“Da astronómica verba, 12,8 mil milhões de euros, 216,3 milhões foram gastos em despesas de funcionamento, ou seja, papel, lapiseiras, clips, contas da água e da luz, telefones, etc.”
A fatia de leão dos gastos foi para “salários e outras retribuições para secretárias, motoristas, assessores (alguns com ordenados escandalosos), conselheiros, chefes de serviço, especialistas diversos, técnicos, juristas, em síntese, o chamado pessoal político”, uma corte de muita gente. Gente amiga. Tudo pago pelo Zé.
Mas o espantoso deste regabofe é que os políticos responsáveis por este esbanjar são os mesmos que apregoam em público austeridade, rigor, eficiência administrativa, qualificação.
Os números do desmando são esmagadores. Em três anos (2003 a 2005) a despesa total movimentada pelos gabinetes do governo atingiu o valor de 12,8 mil milhões de euros”. Para se ter uma ideia: “os gastos dos ministérios davam para construir três aeroportos da Ota e uma dezena de pontes iguais à Vasco da Gama.
“Cada português teve de pagar do seu bolso 430 euros por ano para financiar o funcionamento dos gabinetes do governo. Estamos a falar de despesas que dizem respeito a ordenados com assessores, chefes de gabinete, pagamento de pareceres e contratação de especialistas”.
São 250 gabinetes governamentais que foram auditados pelo Tribunal de Contas e que empregaram 1303 assessores, técnicos, consultores e especialistas durante três anos.
“José Sócrates foi o primeiro-ministro em causa que mais nomeações fez para o seu gabinete, 148 nomeações”. O “reformista” que despede funcionários públicos para entregar serviços a privados. Com estas políticas, com governantes deste calibre, o país não sairá da cepa torta, continuaremos mergulhados em sacrifícios insuportáveis.
Com tanto dinheiro gasto, quantos centros de saúde, hospitais, urgências, escolas se poderiam construir e manter em funcionamento, abertos às necessidades das populações e com bom serviço?
Os impostos que pagamos servem para alimentar um sistema político ineficaz, incompetente, esbanjador.

Miranda – Lisboa

Portugalclub \: Portugal, não tem esquerda nem direita, tem Corruptos.