sábado, junho 14, 2008

Pacto de Dover - "novas (velhas) pistas"

A Professora Maria Cândida Proença publicou no "Círculo de Leitores" uma biografia de D. Manuel II, onde, não obstante revelar um esforço muito sério de investigação, não conseguiu por vezes evitar fazer-se eco de algumas falsidades postas a correr pela propaganda republicana, tanto acerca do carácter do Rei, como acerca do Pacto de Dover por este celebrado com D. Miguel II.

Neste último caso - Pacto de Dover - Maria Cândida Proença fez-se então eco da tese segundo a qual o Pacto de Dover não teria existido (in D. Manuel II, Lisboa, Círculo de Leitores, 2006, pp. 137-142). Esta foi a tese defendida e adoptada pelos republicanos salazaristas, de 1932 em diante. Ao adoptar esta tese, os salazaristas fizeram-se eco da versão dos acontecimentos posta a correr pelos detractores monárquicos do Pacto, como o Marquês de Lavradio. Um eco interessado e interesseiro - foi na base da negação do Pacto de Dover que Salazar declarou D. Manuel morto "sem herdeiro, nem sucessor", apropriando para o Estado (em benefício do seu entourage) os bens da Casa de Bragança.

Mas eis agora a notícia de que Maria Cândida Proença, no lançamento de uma nova edição da biografia de D. Manuel II, terá dito à "Lusa" que surgiram entretanto "novas pistas" nos arquivos que estudou. Não serão decerto "novas pistas", sendo provavelmente "pistas" que confirmam a versão dos factos sempre defendida pelos monárquicos da Causa.

A ser verdadeira esta correcção por parte da Autora, como se depreende da notícia transcrita, cumpre saudar a sua seriedade científica, não vacilando perante dados que confirmam a versão dos acontecimentos, e as fontes publicadas em 1933 pela Causa Monárquica de D. Manuel II. Foi, na verdade, alegando ter em conta o espírito do Pacto de Dover que a Causa Monárquica reconheceu então sem hesitação D. Duarte Nuno de Bragança como herdeiro dos reis de Portugal.

Eis pois uma obra de leitura obrigatória, na esperança de não ver defraudada esta notícia e saudação.

JMQ



História: Nova biografia de D. Manuel II revela um Rei "atento e cuidadoso" e não "o tonto piedoso" da propaganda republicana

Lisboa, 07 Jun (Lusa) - D. Manuel II foi um monarca "atento, preocupado, cauteloso, mas não um tonto, piedoso e orientado pela mãe", como acusavam os republicanos, sustenta a historiadora Maria Cândida Proença, autora de uma biografia do último Rei de Portugal.

"D. Manuel II era um moderador, cauteloso sem dúvida, e profundamente preso ao juramento que fizeram à Carta Constitucional, a 06 de Maio de 1908, quando assumiu a coroa", disse a investigadora Maria Cândida Proença à agência Lusa.

A historiadora afirmou que o monarca "não era o tonto que a propaganda republicana pretendeu fazer dele", e lamentou o facto "da sua personalidade e acção serem pouco conhecidas dos portugueses que fazem dele uma outra ideia".

A sua curta acção política como soberano, de 1908 a 1910, "demonstra preocupação com o país".

"Estudava as pastas até altas horas da noite, e era atento à situação política, pois tentou travar o avanço republicano, ao fazer uma aliança com os socialistas, procurando cativar para a Coroa as massas populares e o operariado".

Para esta biografia que levou cerca de seis meses a concretizar, a historiadora utilizou dois fundos documentais inéditos, o espólio de D. Manuel II e o que se encontra depositado na Associação Cultural da Casa de Sabugosa e S. Lourenço.

Segundo a historiadora, estes dois núcleos documentais "deram achegas muito importantes para compreender melhor não só personalidade D. Manuel como os seus pais e várias personalidades da época".

"Estes documentos dão, por exemplo, novas pistas relativamente ao Pacto de Dover que estabelece a pretensão ao trono [assinado em 1912 pelos dois ramos da família de Bragança]".

Cândida Proença acrescentou ainda que "são muito interessantes as cartas trocadas entre o Rei e o marquês de Sobral, e também com Henrique de Paiva Couceiro, que tentou reinstaurar a monarquia".

"O Rei, relativamente a Couceiro, não o apoiou abertamente, pois foi sempre cauteloso. Defendia antes uma campanha de esclarecimento que naturalmente faria desejar o regresso da monarquia. Defendia também que os monárquicos deviam ir conquistando lugares no Parlamento e de destaque na sociedade", disse.

Relativamente a esta biografia, agora editada pela Temas & Debates, Maria Cândida Proença afirmou que procura "ser esclarecedora relativamente à ideia feita do monarca pela propaganda republicana, traz novos dados da sua atitude política durante o exílio em Inglaterra, e a sua acção na Cruz Vermelha Internacional".

"D. Manuel tinha um grande amor a tudo o que era português e teve sempre em primeiro plano os interesses patrióticos e dos portugueses, e não os seus", acrescentou.

D. Manuel II assumiu a trono aos 18 anos, após o assassinato do pai, o Rei D. Carlos, e o seu irmão mais velho, D. Luís Filipe, a 01 de Fevereiro de 1908, interrompendo a sua carreira naval à qual estava predestinado.

Em 4 de Setembro de 1913 casa em Singmaringen (Alemanha) com a princesa Augusta Vitória de Hohenzollern-Sigmaringen, sua segunda prima, pois ambos eram bisnetos da Rainha D. Maria II e do príncipe consorte D. Fernando.

O Rei morreu em 2 de Julho de 1932, em Twickenham (Inglaterra), não deixando descendentes, assumindo a pretensão ao trono, de acordo com o Pacto de Dover, D. Duarte Nuno de Bragança, neto de D. Miguel I.

NL.

2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A. - 2008-06-07 09:35:01

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