quinta-feira, outubro 02, 2008

Pequim



A imprensa está hoje saturada com prognósticos económicos e financeiros muito pessimistas. François Fillon, primeiro-ministro francês, detém já o record ao dizer que o mundo enfrenta a pior crise financeira desde o crash de 1929. Em lugar de destaque na BBC londrina, o dr. Roubini -“Dr. Doom”, como é conhecido em Nova Iorque - não desarma, continuando a profetizar para amanhã "o fim do império americano".

Deve ser atribuída credibilidade a estes profetas da desgraça? Os números disponíveis indicam que os Estados Unidos e os grandes da Zona Euro poderão estar a entrar em recessão. Mas será a próxima recessão equivalente à depressão dos anos 30?

Nos anos 30, a recessão precedeu as falências dos bancos. Estamos em situação inversa, com a economia mundial a crescer perto dos 4%. Hoje, é uma certa classe política quem está a lançar o pessimismo e quem está a estatizar o mercado. Até agora, apenas foi permitida uma falência, no que mais parece ter sido a criação de um bode expiatório. Hoje, é o estado americano quem decide quem deve ou não deve sobreviver.

Verificados os dados disponíveis, é possível começar a falar-se de recessão em alguns países do ocidente, mas por enquanto numa recessão menos grave do que a dos anos 80. Uma pergunta se impõe: porque é que os Paulson e os Fillon estão a semear tanto alarmismo? Com que objectivo se tem estado a orquestrar o que bem pode vir a transformar-se numa catástrofe financeira e numa verdadeira recessão, se não mesmo numa depressão?

A Rússia está a ser penalizada e dentro do império americano os dados parecem claros: estamos a assistir à maior transferência de dinheiro e de poder da sua história. Não tem essa transferência de poder outras implicações externas? Uma outra pergunta, inquietante, não pode deixar de se colocar: como é que vão reagir os países da Organização de Cooperação de Xangai?

Morgan Stanley - um dos gatos que mais tem estado a engordar com a actual "crise financeira" em Wall Street - não esconde a sua ansiedade .

Outra incógnita está na União Europeia, com o Euro a ser colocado à beira do abismo.

Em Washington, creio que os olhos estão postos em Xangai e, sobretudo, em Pequim. Da resposta de Pequim ao problema de Wall Street pode vir a depender a dimensão do desastre financeiro e económico nos Estados Unidos e, por extensão, na Europa. Até onde irão cair os grandes da União Europeia? Até quando se manterá o Euro?

Nos tempos mais próximos, iremos decerto assistir ao desdobrar do "plano Roubini", a começar por uma concertada descida geral das taxas de juros. Afinal, não foi Roubini quem "previu" tudo isto em Fevereiro passado?  

Lá mais para diante, quando a "equipa Obama" tiver garantida a posse na Casa Branca, o tema da crise financeira vai decerto desaparecer dos noticiários... se Pequim o permitir.

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