segunda-feira, janeiro 11, 2010

Educação é a base


CARTA DO CANADÁ
Fernanda Leitão

Dando de barato o triunfalismo histriónico-arranjista do camarada Nogueira, peça que faz parte de todos os carnavais políticos desde 1974, registe-se com agrado o acordo entre o Ministério da Educação e os sindicatos de filiação vária. É que já ninguém tolerava aquela guerra de que ninguém saíu vencedor nem prestigiado. Bem pelo contrário.
     O acordo, com cedências de lado a lado, como todo o acordo que se preze, terá ainda alguma pedra a desbastar. E isso será feito com calma, tempo e serenidade, sem berreiros nem insultos. Porque este acordo proporciona, finalmente, as condições para se falar mais de Educação do que de dinheiros, promoções e regalias que um país de desempregados mal entende. É necessário, é urgente que todos – professores, estudantes, pais e autoridades governamentais – analisem de modo sério o que está mal no sistema educativo e tratem de pôr tudo a funcionar. A Educação é a base de qualquer povo. Só com educação excelente um povo melhora o seu país e garante o seu futuro.
     Penso que, apesar de todos os pesares, este acordo marca uma viragem. Quere-se um professorado competente e honesto, empenhado e respeitado, com todas as condições para levar a sua missão a bom termo. Um professorado que seja uma referência para estudantes transviados, devidamente apoiado por pais atentos e responsáveis. É um longo caminho a percorrer, mas vale a pena.
     Não será demais realçar a importância dos grandes cabouqueiros da Educação, os que garantem o ensino elementar e pré-primário. É aí que a sementeira tem de ser fecunda e forte. Sem esse alicerce, de Educação e civismo, o estudante não terá grandes voos, o país ficará desfalcado.
     Penso ser oportuno chamar à colação o ensino da Língua Portuguesa no estrangeiro. O ensino básico é fundamental e, sem ele, não haverá nas comunidades emigrantes jovens professores que continuem a garantir a língua de Camões em todos os países por onde se espalham cerca de cinco milhões de portugueses. Para tanto, é necessário motivar as comunidades para que, de parceria com o estado português, assumam essa responsabilidade, já que Portugal é um pequeno país que não pode sustentar, sózinho, o Império da Língua e da Cultura. É preciso que a relação professor-estado seja clara, de contornos bem definidos, e nunca mais assente em promessas de deputados e secretários de estado. Há que olhar para o professor que garante o ensino da língua em terras longínquas com o mesmo apreço, respeito e solidariedade com que se olha aquele que ensina as crianças em Portugal. Por tudo isto, penso que foi um tremendo erro transferir o ensino básico da língua portuguesa no estrangeiro para o Instituto Camões, ficando sob a tutela do Ministério dos Negócios Estrangeiros.  Sendo que este está empenhado na chamada diplomacia económica, isto é, na expansão comercial, o que é legítimo, é errado entregar a ferramenta maior dessa expansão, a língua, a um instituto vocacionado apenas, e só, para o ensino universitário. Isto para não falarmos nas intermináveis polémicas que o referido instituto tem alimentado com a sua situação interna. O ensino básico do português deveria continuar no seu lugar natural, o Ministério da Educação. Não sou eu apenas que tenho esta opinião, são já muitas as vozes que se levantam no mesmo sentido, até dentro do Instituto Camões, na própria área do governo e entre aqueles que, de facto, entendem de Educação. Políticos que saltaram duma experiência de ensino medíocre e sem qualidade, nunca entenderão isto. O que não é de todo o caso da actual ministra da Educação.

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