sexta-feira, janeiro 08, 2010

Notas de um desafio à quietude das profundidades


"Quem considerar o Reino de Portugal no tempo passado, no presente e no futuro, no passado o verá vencido, no presente ressuscitado e no futuro glorioso; e em todas estas três diferenças de tempos e estilos lhe revelou e mandou primeiro interpretar o. favores e as mercês tão notáveis com que o determinava enobrecer: na primeira, fazendo-o, na segunda restituindo-o, na terceira, sublimando-o."

(Padre António Vieira, in História do Futuro).
Há cem anos, um desembarque no Terreiro do Paço teve por objectivo impor pela força um regime que nunca veio a ser referendado.
(Em Abril de 1909, o congresso republicano de Setúbal elegeu um novo directório, pela primeira vez com elementos carbonários, e aprovou o uso da força para alcançar a república. Até esse momento a doutrina oficial republicana defendia a via eleitoral. Foi então constituída uma comissão para organizar a revolução, que não integrava um unico elemento carbonário. Assim, o directório republicano e a carbonária caminharam para a revolução de costas voltadas. Mas acabou mesmo por ser a carbonária quem fez o 5 de Outubro. A revolução correu, portanto, completamente ao contrário do pretendido pelo directório republicano. O 5 de Outubro foi, desta sorte, feito por uma minoria radical e ainda mais ínfima que o Partido Republicano. Também isto explica muito do que se veio a passar na I República...)
Hoje, a mesma força tentou impedir um desembarque de centenas de jovens que pretendiam - e continuarão a pretender - exactamente o contrário: de modo pacifico convocar o Povo, único verdadeiro soberano, para livremente decidir sobre que regime quer (sobre)viver.
(Na madrugada de 3 de Outubro de 1910, a sublevação de elementos republicanos teve sucesso apenas em três unidades da capital: Infantaria 16, Artilharia 1 e Quartel de marinheiros. E se as duas primeiras se revelaram incapazes de cumprir o seu objectivo inicial, já este último desempenhou efectivamente um papel fundamental na revolução. Alguns oficiais infiltrados tomaram os cruzadores Adamastor e S. Rafael, que estavam ancorados no Tejo, e que ao inicio da manhã do dia 4 começaram a bombardear as Necessidades. Depois da noticia da partida do rei para Mafra, estes navios dirigiram-se para o Terreiro do Paço.
No final do dia 4, o cruzador D. Carlos (navio almirante), que ainda não se pronunciara pela revolução, mas que também não a combatera, é dominado pelos revolucionários, e segue então para junto do S. Rafael e do Adamastor. É destes cruzadores que desembarcam, ao principio da manhã do dia 5, cerca de 1500 marinheiros republicanos, numa altura em que o quartel general já tinha mandado tocar o cessar fogo)
Há um ano  vivemos o ano do centenário da morte do único Rei de Portugal, a par de D.Sebastião, que morreu de morte violenta - precisamente aquele que, parafraseando as palavras do próprio D. Carlos, foi um provocador da “quietude das profundidades”.
(Entre 2 de Abril e 5 de Agosto de 2009 a República gastou aos contribuintes, só em ajustes directos, ou seja, em adjudicações sem concurso público, a módica quantia de 507.670 euros. Em quatro meses! Em treze ajustes directos. Só no desenho do papel de carta, cartões de visita e afins de tão ilustres personagens gastaram-se dezoito mil contos de reis!)
Há um traço comum a todos os momentos críticos da História de Portugal - a ligação directa entre o Rei e o Povo. E há também outro - as chamadas elites estiveram quase sempre do lado errado. Ontem como hoje.
A 5 de Outubro de 1910 um desembarque no Terreiro do Paço teve por objectivo impor pela força um regime que nunca veio a ser referendado.
A 5 de Outubro de 2009 embarcaram em Belém centenas de jovens em novo desafio à quietude das profundidades.
Num destes dias a quietude das profundidades voltará à superfície.

Paulo Teixeira Pinto, presidente da Causa Real, em artigo publicado no DN.

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